Não é um tempo perdido


Luciane Bernardes

O cativeiro involuntário nos convida a reflexão, ao confronto de nossas escolhas. Vislumbramos a nossa história na esperança de encontrar algum motivo que justifique a nossa existência. A cabeça não para. Há um bombardeio de informações, estatísticas que apregoam o isolamento social. Fomos convidados a um encontro pessoal e único com a nossa história.
Observo meus grupos de mensagem com preocupação. De um lado um pânico coletivo, do outro uma romantização do momento. Não é romântico. É sério. Mas provavelmente superaremos tudo. Haverá um preço a ser pago, individual e coletivamente. Vai ser preciso união, atenção pelo outro, paciência, tolerância. Precisaremos disso. Porém está tudo tão polarizado.
Não sei como está sendo para cada um, só sei que ficar sozinhos nos faz enfrentar nossos medos, nossas inseguranças, nossa finitude. Não dá para falar da vida sem falar de morte. Porque a vida acontece neste tempo incerto entre o nascimento e a morte. É disso que estamos com medo? Ou é da falta de controle sobre isso? Acho que são as duas coisas. Todo esse medo de não contágio, tentando impedir que o vírus chegue até nós, em uma tentativa de escapar deste destino. Que controle temos sobre isso? Quase nenhum. Mais cedo ou mais tarde teremos contato com ele. E não sabemos como será.
Incrível como a perspectiva de morte nos amplia a visão; muitas mortes noticiadas. Então eu me pergunto, e se a minha vida também estiver acabando? Quem pode prever?
Viktor Frankl, psicólogo alemão, tem uma frase que me sustentou durante os meus tratamentos oncológicos, diz assim: Quando a situação for boa, desfrute-a. Quando a situação for ruim, transforme-a. Quando a situação não puder ser transformada, transforme-se.
Essa é a grande oportunidade, perguntar-se para transformar. Sem medo da resposta. Porque sempre há um caminho novo para recomeçar. E mesmo no fim, há algo para ressignificar. Espero sinceramente que saiamos disto melhores do que até aqui chegamos. E com algumas respostas, não só sobre o Corona vírus. Mas sim, sobre a vida. Sobre a nossa vida e o que fizemos dela.
O que faremos ainda não está escrito.



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Luciane Bernardes

E-mail: lukbernardes@gmail.com

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